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domingo, 8 de novembro de 2009

Dos gays e da bestialidade humana


Hoje (08/11), às 20h, cheguei a casa com a sensação de missão cumprida depois de um dia de trabalho em regime quase escravista. Tudo bem, a vida tem dessas coisas; afinal, é preciso botar comida no estômago. No entanto, o que não estava muito bem era a cara da minha mãe, que logo me veio com a notícia mefistofélica.

Meu ex-namorado Thiago e seu atual companheiro, na noite passada, foram espancados por um grupo de carecas no - e do - Itaim Paulista, onde resido desde sempre. O resultado da agressão, para Thiago, fora cinco dentes esfarelados, três costelas e uma perna quebradas, além de escoriações múltiplas e olhos inchados e roxos.

Com pavor no rosto e voz trêmula, minha mãe disse que o espancamento só cessou quando os agressores ouviram a sirene da viatura de polícia, chamada por uma vizinha de 78 anos, acordada pelos gritos dos dois rapazes pedindo aos carecas pelo amor de Deus que não os matasse. Por fim, minha mãe comunicou-me que Thiago e o companheiro ainda estão no hospital, e, ao saírem, pretendem mudar para qualquer outro lugar.

Infelizmente, mudar de casa, bairro, estado ou país, não resolverá o problema, tampouco apagará de suas carnes e de suas almas as cicatrizes e o medo. Sim, há medo e desespero, pois eles sabem: pode acontecer outra vez.

Quanto aos agressores, eles também têm medo. Encovardam-se diante da nossa capacidade de amar, de ser feliz, e, sobretudo, de viver em paz; de modo contrário, não teriam do que se defender. Apóiam-se na violência por serem incapazes de enxergar as coisas belas da vida. São imbecis. Desconhecem os prazeres da boa convivência pelo simples motivo de que suas vidas são mesquinhas e sem significado, rastejam pelo mundo muletados por uma repugnante pseudo-ideologia baseada no ódio. O mesmo ódio e repugnância que sentem por si mesmos.

São tolos. Há milênios ideologias e pessoas tentam aniquilar seres humanos como nós - que amam e fazem amor com pessoas do mesmo sexo - por verem-se refletidos no espelho do Outro. Não houve resultado. Não serão idiotinhas de cabeça raspada e coturno que conseguirão.

Continuamos vivos e nos reproduzindo aos milhares. Estamos em todas as casas, em todas as camadas do Poder, em todas as religiões. Somos guerreiros com estirpe e tradição. E, como todo guerreiro, sabemos lutar. Se preciso, sabemos empunhar um fuzil, e sabemos contra quem atirar; mas não derramaremos sangue de nossos irmãos enrustidos. Não carregaremos está mácula ignóbil em nossas vidas. A ponta aguda de suas lanças odiosas não nos intimida. Dá-nos força. Temos um compromisso com nós mesmos: amar. E é em nome deste compromisso que continuaremos sendo nós mesmos, independentemente dos aplausos, das vaias, das glórias ou das misérias.

É preciso coragem para lutar, principalmente para lutar por causas nobres como amar outro ser humano, indiferente da orientação sexual. E, convenhamos, nós, gays, temos larga experiência em lutar pelo amor; enquanto skinheads, white powers e dementes afins não passam rebeldes sem causa, covardes que andam em bando, como animais selvagens em busca de uma ou duas presas desprotegidas. Contudo, para os animais selvagens, existe a necessidade natural de tais atos, pode-se até dizer que há dignidade nisso, pois é digno lutar pela sobrevivência. Seria injusto comparar-lhes a essas pessoas. Penso se tratar mesmo de aberrações surgidas dos lamaçais da ignorância humana.

Eles nos mostram os dentes; nós mostramos inteligência e sucesso.

Portanto skinheads, white powers e demais aberrações, dou-lhes a informação: mesmo que vocês tivessem uma causa, essa causa seria perdida. O ódio de vocês é muito pequeno diante do nosso amor. Se não podem conosco, juntem-se a nós, saiam do armário, amem-se sem culpa. Eu os convido a sair das sombras de suas jaulas e conhecer a face luminosa do mundo.