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quarta-feira, 22 de julho de 2009

Agradecimentos

Este texto foi escrito pelo meu admirado e respeitado amigo Plínio Zunica. O objetivo era de que ele fosse a orelha do meu romance. Infelizmente, devido alguns problemas, não deu tempo de utilizá-lo. É uma pena. Ninguém me compreende tão bem quanto Plínio. De todo modo, segue abaixo para que vocês tenham o prazer destas bem traçadas linhas, que, indiscutivelmente, serão a orelha da próxima edição, se houver.

As Notas do Subterrâneo de uma paixão.

Júlio Ferraz, uma caixa de pandora sentimental, força para conter os males do mundo com cadeados de rudeza, ceticismo e acidez. Observador enojado do mundo que o rodeia, se auto-exila na solidão intelectual. Um pária, deslocado entre os de sua opção sexual, um medíocre em seu ramo profissional, um fracasso social. Cospe em Donne, ao afirmar – e pôr em prática - que todo homem deve ser uma ilha, isolar-se para não se contaminar com frivolidades e manter o amor pela humanidade. O amor é um castelo de cartas. Deus é uma muleta para os fracos carregada de vergonha e autopiedade. Amigos são parasitas de dor, dando esmolas de atenção para ufanar-se em frente ao espelho e dormir tranquilos. Os pequenos prazeres e realizações do dia a dia, apenas um anestésico para o cheiro da putrefação que sufoca o mundo. A única forma verdadeira de completude no outro está no prazer carnal, na satisfação do próprio gozo. A confiança, que a deposite em um cão vira-latas. Os animais têm o dom da sinceridade de que abdicamos em função de um narcisismo.

Paulatinamente, Júlio se vê numa armadilha criada por sua arrogância e auto-suficiência. Descobre-se, um dia, verdadeiramente apaixonado, e sente a dor da perda. Descobre o cinza da morte, e a secura da solidão. Sente o apelo dos mistérios entre o céu e a terra que não pode compreender sua vã filosofia. Humaniza-se, enfim, mas sem desarmar-se. A busca da redenção sem pedir jamais perdão.

O Ventre de Oxum é um romance filosófico sobre a futilidade e ignorância que tornam a felicidade plástica tão acessível. Um caminho áspero, cinza e espinhoso, com um anti-herói amargo e detestável, que nos escarra a hipocrisia de que nos entorpecemos a fim de esquecer o quanto detestável e amargos somos nós. Um tapa com luva de pelica para despertar. Um gozo masoquista.

Plínio Zúnica

domingo, 19 de julho de 2009